quinta-feira, 5 de outubro de 2006

O Libertino

'permiti-me sinceridade logo do início: não ireis gostar de mim. os homens sentirão inveja e as damas, repulsa; não gostareis de mim agora, e ainda menos à medida que prosseguir a história.
senhoras, um anúncio: encontrar-me-eis sempre pronto. Isto não é gabarolice ou opinião, mas facto clínico; a que me quiser, basta pedir. e ver-me-eis actuar e sentir-vos-eis enojadas. um erro; é melhor para vós olhar e chegar a conclusões duma certa distância do que meter eu a cartilagem por vossas saias acima.
senhores, não desespereis; também prezo os vossos encantos e o mesmo aviso se vos aplica. acalmai as erecções até terminar de falar e depois, ao fornicardes, - e mais tarde ireis fornicar – sabereis ser o que espero de vós e que se me desiludirdes, quererei que forniqueis com a minha homúncula imagem retinindo em vossos testículos. senti como era para mim, como o é para mim, e reflecti. “foi este tremor o mesmo tremor sentido por ele?” “conheceu ele um mais profundo?” ou há uma parede de desventura na qual as cabeças todas batem “naquele luminoso e breve instante?”
e pronto, foi este o meu prólogo. nada em rima, nenhum protesto de modéstia; espero que tal não esperásseis?
sou john wilmott, segundo conde de rochester, e não desejo ser apreciado por vós.


O libertino
The libertine


e ali jaz ele por fim, o convertido da última hora, o pio devasso.
não sei deixar as coisas pela metade, pois não? dai-me vinho e emborco-o todo, atirando a garrafa vazia ao mundo. mostrai-me Nosso Senhor em agonia e eu trepo pela cruz e roubo os pregos para as minhas mãos.
ali vou eu esquivando-me ao mundo, a baba caindo sobre uma Bíblia.
olho a cabeça de um alfinete e vejo anjos dançar.
então? gostais de mim agora? gostais de mim agora? gostais de mim agora?
gostais de mim …
… agora?'

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